Fundadores da Imbra vão processar o GP
21 de julho de 2010
Acionistas dizem que não foram consultados sobre a operação de venda por US$ 1, e acusam fundo de descumprir acordo de acionistas e de má gestão
Patrícia Cançado - O Estado de S.Paulo
Fundadores e donos de 22% da Imbra, os médicos Fernando Soares e Rodrigo Martins vão processar seu antigo sócio, o fundo de investimentos GP, por descumprimento do acordo de acionistas e suposta má gestão na empresa de implantes dentários.
Ontem, pela segunda vez, eles convocaram uma assembleia de acionistas para a próxima semana para deliberar sobre o assunto. O edital foi publicado no Diário Oficial da União, como exige a Lei das S/A. Caso os novos controladores - o grupo Arbeit - não apoiem a decisão, Soares e Martins vão à Justiça sozinhos.
No mês passado, apenas 20 meses depois de ter assumido o controle da Imbra, a GP vendeu 78% da empresa pelo valor simbólico de US$ 1 para o grupo Arbeit. Os fundadores dizem que foram duplamente surpreendidos pela notícia.
"Só soubemos da venda pelos jornais. Eles descumpriram regras básicas do acordo de acionistas. Nós devíamos ser avisados antes. Além disso, tínhamos direito de preferência na compra dessas ações", afirma Soares, de 30 anos, que criou a Imbra com um ex-colega da turma de Medicina da USP.
A outra surpresa foi o valor do negócio. Em outubro de 2008, a GP pagou US$ 140 milhões pelo controle da Imbra. "Como a empresa perdeu tanto valor em tão pouco tempo?", questiona Soares. "Nós entregamos uma empresa com caixa e eles venderam a empresa endividada."
Os médicos pretendem propor uma ação indenizatória por má gestão contra os administradores e membros do conselho de administração Otávio Pereira Lopes, Danilo Gamboa, Guilherme Pereira de Sousa e Rubens Marques de Freitas. Os dois primeiros são sócios-diretores do GP. A ação pelo descumprimento do acordo de acionistas deve ser movida contra o fundo.
Momento ruim. Na ocasião da venda, fontes ligadas ao negócio disseram que a GP tentou adotar sua fórmula de gestão, baseada na meritocracia e corte de custos, mas teria tido dificuldades em enfrentar um mercado pulverizado e, muitas vezes, informal. Mais: o momento da aquisição, às vésperas da crise financeira mundial, foi ruim.
Em nota, o GP informou que "as acusações não procedem, que a companhia sempre foi administrada de forma regular e diligente e reitera que cumpre rigorosamente suas obrigações em todos os seus negócios".
Quando venderam o controle da Imbra, em outubro de 2008, os médicos ganharam assentos no conselho de administração, mas afirmam ter ficado de fora das decisões estratégicas da companhia nos meses seguintes. Até que, no começo deste ano, decidiram renunciar ao cargo de conselheiro.
"Quando vendemos, ficou combinado que o GP seria o controlador e nós ficaríamos no conselho. Na época, eles diziam que nossa opinião era importante. Depois, começaram a fazer mudanças sem nos consultar", diz Soares, que afirma não ir à empresa desde o começo do ano.
Criada em março de 2006, a Imbra é hoje uma das maiores redes de implantes dentários do País. Com 2 mil funcionários e mais de 600 dentistas, tem 26 clínicas em 12 Estados, além do Distrito Federal.
O novo controlador da Imbra, o grupo Arbeit, tem investimentos em vários setores da economia. Controlado por Márcio Nishigaki, é dono de oito pequenas hidrelétricas (PCHs) em São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná, e constrói galpões, centros de distribuição e fábricas para grandes empresas. O grupo também é dono de uma empresa de bebidas, que fabrica a groselha Milani e os sucos Maraú, e da AviaServ, empresa de serviço de solo para empresas aéreas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário