Preparações ricas em plaquetas constituem uma biotecnologia relativamente nova, sendo sua utilização descrita na literatura médica a partir de meados dos anos 90. Inicialmente utilizadas para estimular e acelerar processos cicatriciais e regenerações ósseas, foram posteriormente incorporadas `a diversos protocolos e campos científicos, da odontologia `a medicina, passando pela ortopedia, cirurgia plástica, periodontia e implantologia oral. Entretanto, tão velozmente quanto sua popularização mundo afora, cresceram também as críticas e questionamentos relativos a sua real eficácia terapêutica.
A nível celular, uma complexa cascata de reações é ativada toda vez que nos vemos diante de desafios como regeneração e reparo tecidual. Estes eventos dependem da proliferação e diferenciação celular e tanto um quanto o outro são modulados por fatores de crescimento. Não por acaso a utilização de tais fatores vem sendo investigada há mais de 20 anos por diversos grupos de pesquisa.
Uma das formas de se obter grandes quantidades de fatores de crescimento no local de interesse é via utilização autóloga do plasma rico em plaquetas (PRP). Este produto representa um concentrado celular em um pequeno volume de plasma, podendo ser obtido após uma sequência de centrifugações de um determinado volume sanguineo. Contendo altas quantidades de 7 fatores sabidamente secretados por plaquetas, a saber : três isômeros do fator de crescimento derivado de plaquetas, (PDGF-AA; PDGF-BB, PDGF-AB); duas formas do fator de transformação B,(TGF-B1 e TGF-B2), além de um fator de crescimento endotelial vascular e um fator de crescimento epitelial, este preparado foi inicialmente utilizado nas reconstruções ósseas de defeitos mandibulares. A partir daí, diversos protocolos de obtenção e utilização foram testados e discutidos. Enquanto alguns autores relataram taxas de sucesso significativamente aumentadas com a sua utilização, outros não conseguiram observar nenhum benefício adicional. Devemos entretanto reconhecer a inexistência de estudos clínicos prospectivos e bem controlados desenhados com a finalidade de responder a estas questões. A maior parte da literatura disponível acerca do tema limita-se a estudos de bancada ou modelos em animais, pesquisas primárias que geram evidências indiretas. Ainda assim, um dos pontos mais explorados pela comunidade científica parece ser o protocolo utilizado para sua obtenção e consequentemente a concentração plaquetária final. A título de exemplificação da variação dos protocolos de centrifugação e seu efeito sobre alguns grupos celulares humanos, vale conferir o artigo in vitro que retirei da Clin.Oral.Impl.Res.(17; 2006; 212-219 - The in vitro effect of different PRP concentrations on osteoblasts and fibroblasts.). As figuras 1a e 2b mostram que dentro dos intervalos estudados, as concentrações de 1x e 2,5x alcançaram resultados estatisticamente significativos sobre a estimulação de fibroblastos. Entretanto, as figuras 3a e 3b demostram não haver potencial benéfico sobre a atividade de osteoblastos, medida pelos níveis de osteoprotegerina (OPG). Embora represente uma avaliação preliminar, os resultados alcançados não são encorajadores. Muito embora exista uma base teórica racional por detrás desta consideração, aonde grandes concentrações plaquetárias significariam níveis altíssimos de fatores de crescimento e portanto uma possível ação deletéria, desequilibrada de tais proteínas, gerando eventos celulares muitas vezes destrutivos ao invés de reparadores ou regenerativos; não está claro até o momento quais seriam os níveis adequados deste concentrado a serem perseguidos. Diante desta questão fundamental, pouco podemos concluir em relação a eficácia do PRP em odontologia. Entretanto, nunca é demais lembrar que quando buscamos por esclarecimentos que possam nortear decisões clínicas, três aspectos devem ser considerados conjuntamente: 1) A melhor evidência científica disponível 2) A capacidade técnica do profissional em realizar o proposto 3) As expectativas do paciente. Ao considerarmos de forma imparcial estas 3 variáveis estaremos caminhando para uma tomada de decisão mais segura e menos suscetível a tendências e modismos que de tempos em tempos reaparecem em nossas rodas de discussão.
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