Reconheço: não sou um cidadão do mundo. Sempre que viajo, seja contemplando a imensidão do Brasil ou lugares afora, por mais surpreendente e encantador que seja o meu destino, passados alguns dias já me pego vasculhando as muitas memórias em busca de sorrisos, olhares, abraços, lugares e sensações que ficaram aqui em casa, na minha cidade, no Rio de Janeiro.
Sei que muitos são como eu. Quem de nós, ao se ver acuado, inseguro ou amedrontado nunca recorreu às memórias para acalmar-se? Cumprindo um papel importante, as lembranças funcionam para alguns como fontes inesgotáveis, verdadeiras pilhas de bem-estar. Para outros, entretanto, significam o exato oposto. Para estes, recorrer aos seus arquivos mais secretos pode representar magoar-se, ferir-se, confrontar-se. Pois então, e se lhes roubassem suas memórias? Haveria pena capaz de punir adequadamente tamanha crueldade?
Lembro-me de ainda criancinha visitar pela primeira vez o dentista. Um após o outro deixávamos a salinha do jardim de infância, subíamos alguns lances de escada e então éramos conduzidos pela professora ao pequeno consultório. Lá, ouvíamos histórias, brincávamos e até abríamos a boca sem chorar, para sermos examinados ou recebermos uma dose de flúor. Saíamos orgulhosos, com olhos radiantes e empunhado o sabre da vitória - uma pequena escova de dente! Aquela manhã repleta de novidades e sorrisos banguelas ainda hoje reaparece em meus pensamentos e seus tão desejados efeitos terapêuticos estenderam-se infinitamente, prevenindo cáries, gengivites e outras chatices por toda a minha vida.
Hoje, pesquisas comprovam ligações importantes entre as infecções orais e doenças graves, como a diabetes, por exemplo. Por estas e outras, acredito que políticas públicas baseadas em prevenção, educação e informação são a melhor forma de se garantir um lugar de destaque no livro de nossas recordações a algo tão importante, que é o direito à saúde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário